quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Passagens Semi - Automáticas

Passagens Semi – Automáticas

Oi Ricardo. Sou professor. Aprecio bastante os seus artigos, mas quando li o “Chumbar alunos não é solução...” publicado no jornal “O Pais” do passado dia 19, na pagina 8, fiquei muito surpreendido e preocupado com declarações do seu entrevistado. Surpreendido pelo facto de em algum momento dizer que esta foi a melhor decisão tomada pelo governo, pois reduziu as altas taxas de reprovação e desistência. Preocupado por sentir que há quem pensa que o professor chumba alunos.
O professor trabalha em função dos programas de ensino pois, estes “reflectem o conjunto de conhecimentos, capacidades, valores e experiências que a sociedade considera naquele momento desejáveis para a educação de todos os cidadãos”. (PIMENTA at all, 1999:111). Portanto, não se deve obrigar o professor a promover incompetentes por razões politicas (?).
O seu entrevistado esqueceu que o processo de ensino e aprendizagem é contínuo e dinâmico, ou melhor as incompetências e incapacidades que as crianças possuem hoje repercutir – se – ão no futuro e isso afectara o desenvolvimento do Pais.
Em 1991 o Pais já estava livre do jugo colonial, [onde filosofia pedagógica defendia a presunção do chumbo (?)] na 5ª classe não haviam 70 alunos por turma e o ensino primário não era gratuito. Conheço muitos casos de crianças que abandonaram a escola por falta de dinheiro para matricula.
Lembro – me de um antigo Ministro de Educação do Brasil, Cristóvam Buarque, que contestado com algumas reformas por si introduzidas disse, cito “...nós estamos a trabalhar no presente reparando o futuro!...Para você ver como será o pais daqui a 30 anos, período completo de uma geração, veja como está o sistema de educação, pois esta é directamente proporcional ao desenvolvimento sócio – económico”.
Se o governo estiver preocupado em reduzir as taxas de desistência e repetência, poderia começar pela formação de professores e fundamentalmente pela formação em exercício.
Repare Ricardo. Um professor que passou por 3 currículos em 15 anos de actividade, quando se depara com “...as passagens semi-automáticas” sem que alguém lhe explique de forma objectiva, clara e tecnicamente o que deve e como fazer, o professor aderir é com reticencias. É a história do treinador que diz vamos mudar de táctica, sem que tenha uma ideia clara da táctica a implementar e muito menos das razoes da mudança...
Explica isto, meu caro Ricardo. Em 2006, num estudo feito sobre esta matéria, questionando a uma criança se passou ou não, ela respondeu: Ah! Passei. Mesmo o Alexandre passou...Dedução: Alexandre era o pior aluno da turma, mas mesmo assim passou.
Temos que reconhecer que o sistema não esta saudável, alias o próprio pelouro do Ministério sabe e reconhece que trata-se de um sistema que foi nos imposto pelo FMI e consigo a formação de professores. Chega de importação de modelos em defesa de financiamentos que em alguns casos nem beneficiam totalmente o inquilino da sala de aulas. Por exemplo. Em quantas escolas se ensinam Línguas Moçambicanas? No 1º e 2º ciclos? quantos professores ensinam Ed. Física, Ofícios, Ed. Musical? Muito poucos. Mas esses países que nos impuseram o sistema, não têm as diversidades sócio-culturais que Moçambique possui. Ademais. Quantos Moçambicanos estiveram no debate da alteração do currículo? Pois Segundo ZABALZA (1992:13) “quanto mais representativo a nível social é a composição dos grupos de trabalho que elaboram os programas, tanto mais eles reflectirão essa ideia de comunicação e consenso que devem alias reflectir”.
Se fores a analisar rigorosamente, iras concluir que a maior parte que defende passagens semi – automáticas, são os que ocupam lugares de direcção e chefia nos diversos sectores da educação. Ou seja, fazedores das politicas educacionais. E professores e alunos!?...
Para terminar, Ricardo, peço que convide o seu interlocutor a falar do PIREP e não de passagens semi – automáticas. E nesse dia não se esqueça de fazer lhe as seguintes perguntas:
1-O que é o PIREP, quais as escolas ai integradas e porque de apenas estas?
2-Que acções concretas foram desenvolvidas desde a sua existência?
3-Qual é o impacto real dessas acções para os alunos, professores (área de formação) e currículo e programas de ensino técnico em geral.
Por favor Ricardo. Faça este trabalho. É duro mas compensador e relevante devido ao impacto que vai produzir a nível do ensino técnico. Sabe que pouco ou quase não se fala do ensino técnico nos médias.

costatsambe@gmail.com